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sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Ó pai...

Não, eu não faço idéia de por onde começar, depois de tanto tempo no standby. E, mesmo que soubesse como começar, não saberia sobre o quê. Eu não quero mais falar dos meus detalhes pessoais/conjugais, só do que eu queria que o mundo soubesse a meu respeito, e isso não é pouco. Nada pouco. Afinal, não tenho feito novas aquisições cuja menção seja relevante ao grande público, mas eu tenho pensado taaaaanto que vocês nem sabem. E na real hoje era só pra mencionar que ganhei o Doidas e Santas (*-*), e citar algumas [poucas] impressões do [pouco] que li até agora.

página 58:
"Se a verdade pode parecer perturbadora para quem fala, é extremamente libertadora para quem ouve.É como se uma mão gigantesca varresse num segundo todas as nossas dúvidas. Finalmente, se sabe.
Mas sabe-se o quê? O que todos nós, no fundo, queremos saber: se somos amados.
Tão banal, não?"

...

É, Martha. Tããão banal, e tão decisivo naquele instante que nos prende entre avançar ou estancar, em seguir ou retorceder, crescer ou estagnar, sofrer um pouquinho vivendo tudo que for possível ou (sobre)viver sofrendo horrores.

Mas é banal, o mundo realmente 'tá nem aí pro banal de cada um, então agora eu vou dormir e outra hora eu conto mais banalidades por aqui... ;)

sábado, 11 de outubro de 2008

50 coisas que as garotas pensam

[...]34- Mulheres adoram sexo meio bruto, com puxão de cabelo e tabefe na bunda. Mas disso tudo, o que mais nos excita é a PRESSA de fazer sexo, as demonstrações de que se está realmente afim. (grifo nosso)

Rachel: Exato… Desejo urgente, tipo “quero seu corpo agora”. Meio Wando, mas é verdade.

Bel: Wando RULEZ em materia de “i want your body on my bed NOW”[...]
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Mais aqui e aqui; praticamente utilidade pública.

Enjoy ;)

sábado, 4 de outubro de 2008

Caio F., eternamente

Texto lindo, Karol que me passou...

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Poucos nomes tornaram-se ícones indiscutíveis da cultura queer brasileira. Nesse seleto grupo, um dos mais reverenciados é, sem dúvida, Caio Fernando Abreu. Se ainda estivesse entre nós, mortais, Caio teria completado 60 anos no último dia 12 de setembro.

Jornalista bissexto, trabalhou na imprensa apenas o suficiente para ganhar algum $$$ (era com três cifrões que ele grafava a palavra "dinheiro", principalmente quando esse fazia falta). Foi na literatura que Caio se destacou. Limitá-lo, porém, a seus escritos não é suficiente para falar desse escritor que construiu uma estética da existência inigualável.

Gaúcho sem fronteiras

Caio Fernando Abreu nasceu em 1948, na cidade de Santiago, Rio Grande do Sul, e morreu em 1996, na capital Porto Alegre. Mas Caio foi um cidadão do mundo. Curioso e irrequieto, foi muito além do que podia-se esperar de um gaúcho que nasceu no interior do Rio Grande do Sul, em uma cidade da região de Missões, fundada por jesuítas ainda no século XVI, mas com uma população minúscula que nem chegava a 50 mil habitante.

Cursou Letras e Artes Cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas não concluiu nenhum dos cursos. Veio para São Paulo e começou a escrever para revistas de grande circulação (Nova, Manchete, Veja, Pop). Durante a ditadura, chegou a ser perseguido pela polícia. Para se esconder, passou um tempo no sítio que a escritora Hilda Hilst possuía em Campinas, interior do estado de São Paulo.

Isso foi em 1968, pouco antes da promulgação do AI-5, ato institucional que fechou ainda mais a repressão. Com o acirramento da censura e da perseguição política, Caio exilou-se por um ano na Europa, passando pela Inglaterra, Suécia, França, Países Baixos e Espanha. Voltou para Porto Alegre, onde usava cabelos vermelhos, brincos nas duas orelhas, batas de veludo cobertas de espelhos, tudo isso em pleno regime militar. Ficou na capital gaúcha até 1983, quando se mudou para o Rio e, dois anos depois, para São Paulo. Sobre o Rio, ele escreveu: "Bem, finalmente estou aqui, e me sentindo muito bem, num lugar fantástico, meio tropical, meio colonial, meio bávaro. Meio muito. Estou ficando saudável, bonito & corado. Uma gracinha. Só me falta agora arrumar um Grande Amor. Assim mesmo, com letras maiúsculas. Virá logo: a cidade é mágica, sensual, afetiva, tesuda".

Em 1994, morou em Paris, mas por pouco tempo. Descobriu-se portador do HIV em uma época pré-coquetel. Por sugestão da amiga Grace Gianouskas (que anos mais tarde se tornaria famosa com a stand-up comedy Terça Insana), retornou para a casa dos pais, em Porto Alegre.

Lirismo engajado

"A homossexualidade não existe, nunca existiu. Existe sexualidade - voltada para um objeto qualquer de desejo. Que pode ou não ter genitália igual, e isso é detalhe. Mas não determina maior ou menor grau de moral ou integridade". É paradoxal pensar que um artista assumidamente gay tenha dito que a homossexualidade não existe. No entanto, cabe lembrar que Caio é herdeiro tanto da chamada revolução sexual dos anos 1960, com seus ideais de amor livre, quanto do desbunde dos anos 1970, que defendia quebras de qualquer limites ou rótulos e cuja maior expressão está na chamada "amizade colorida", uma espécie de relacionamento aberto que chegou até a dar nome a um seriado da Rede Globo.

Ainda que avesso a rótulos, Caio Fernando foi um defensor dos direitos sexuais, mesmo sem militar organicamente. Sua própria existência já dava conta de seu engajamento, ao tratar abertamente de seu desejo por outros homens. Caio freqüentava os ambientes intelectualizados e culturais, mas sempre manteve o pé no underground. Em uma época em que travestis eram anônimas, dedicou um conto e uma carta a Cláudia Wonder (Linda, uma história horrível e Meu amigo Cláudia).

Mas foi sobretudo com sua obra que Caio Fernando mais contribuiu para que a homossexualidade deixasse de ser tabu. No conto Aqueles dois, por exemplo, publicado no livro Morangos mofados, de 1982, ele coloca dois homens em uma situação bem conhecida de muitos gays: as restrições do ambiente de trabalho. Fugindo de qualquer rotulação, dois funcionários de uma repartição pública desenvolvem uma amizade tão intensa que acaba incomodando seus colegas. Caio não deixa saber se os dois teriam ou não algum envolvimento sexual - e é justamente com isso que ele coloca o preconceito em foco. Afinal, por que dois homens não podem amar-se tanto?

A dor

A doença parece não ter incomodo Caio profundamente. Quando soube que era soropositivo, escreveu uma crônica no jornal O Estado de S. Paulo. Dizia ter sido inevitável, uma vez que muitos homossexuais de sua geração estavam com aids. Sua vida foi uma ponte entre dois mundos, o do conservadorismo dos anos que precederam a década de 1960, e o da suposta liberdade pós-1968. Esse trânsito não se fez sem dor. Pelo contrário: viver sem padrões definidos, ou em busca da felicidade ainda que sem regras, não foi fácil. Talvez seja por isso, justamente, que sua obra é constantemente adaptada para o teatro em montagens que revelam a dor de existir.

É esse o caso, por exemplo, de Réquiem para um rapaz triste, de Rodolfo Lima, sobre as personas femininas de Caio Fernando. E Os dragões, de Fernanda Boechat, que mostra como é difícil sobre(viver) após uma separação. Esse tema, aliás, aparece reiteradamente na obra de Caio Fernando. No conto, Os dragões não conhecem o paraíso, ele trata do ser amado que o abandonou, apresentado como um dragão. Diz Caio: "Só quem já teve um dragão em casa pode saber como essa casa parece deserta depois que ele parte. Dunas, geleiras, estepes. Nunca mais reflexos esverdeados pelos cantos, nem perfume de ervas pelo ar, nunca mais fumaças coloridas ou formas como serpentes espreitando pelas frestas de portas entreabertas. Mais triste: nunca mais nenhuma vontade de ser feliz dentro da gente, mesmo que essa felicidade nos deixe com o coração disparado, mãos úmidas, olhos brilhantes e aquela fome incapaz de engolir qualquer coisa. A não ser o belo, que é de ver, não de mastigar, e por isso mesmo também uma forma de desconforto. No turvo seco de uma casa esvaziada da presença de um dragão, mesmo voltando a comer e a dormir normalmente, como fazem as pessoas banais, você não sabe mais se não seria preferível aquele pantanal de antes, cheio de possibilidades – que não aconteciam, mas que importa? – a esta secura de agora. Quando tudo, sem ele, é nada."

Alecrim e manjericão

Aos 47 anos, morando com os pais, doente, ele dizia que passava o tempo "cuidando de rosas no jardim, fazendo canteiros com arruda, alecrim, manjericão". Voltar-se para o cotidiano, para a vida que segue independente de nós, foi um exercício zen que ajudou Caio a lidar com a aids. Dizia também "barganhar com Deus tempo para escrever pelo menos mais seis livros".

"Ando bem, mas um pouco aos trancos. Como costumo dizer, um dia de salto sete, outro de sandália havaiana. É preciso ter muita paciência com esse vírus do cão. E fé em Deus. E falanges de anjos-da-guarda fazendo hora extra. E principalmente amigos como você e muitos outros, graças a Deus, que são melhores que AZT".

Caio nos deixou com suavidade. Mas deixou-nos acolhidos e reconfortados com sua obra e com os reflexos de sua vida que ainda brilham. No final de Os dragões não conhecem o Paraíso, uma voz materna surge para nos dar o que seria seu conselho máximo para todos: "Que seja doce".

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Em uma palavra: adoooooroo!
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